quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

a rota do indivíduO

Essencialmente hoje, são dispensáveis quaisquer qualidades de invenção poética, devem reinar as obras-primas elaboradas pelo mestre-mor da música negra brasileira, diga-se Djavan. Foi este o espírito que mais me incitou a imaginação das coisas indizíveis. Cada pétala cadente da saudação que este homem fez aos deuses ultramarinos foi soprada aos polos mais remotos. E o som que se projeta é similar ao pulso firme de um coração aflito pelas dores que já experimentou e se vêem espelhadas na cor do abismo dos olhos de quem sente vontade. Há um caminho riscado na vereda dos sonhos semi-possíveis, e não foi por falta de aviso: é trilha perigosa a cauda do cometa do conhecimento. Que os nossos desejos apareçam como um prego que se bate na parede, ou se pendura o quadro da vida lá fora, ou fica o buraco sem sentido. Saudações aos indivíduos que carregam os sonhos nos trilhos, sacolejam e não descarrilham. Fica a homenagem do mestre.

Mera luz que invade a tarde cinzenta
E algumas folhas deitam sobre a estrada
O frio é o agasalho que esquenta
O coração gelado quando venta
Movendo a água abandonada
Restos de sonhos sobre um novo dia
Amores nos vagões, vagões nos trilhos
Parece que quem parte é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia
Como mãe, como mãe que dorme olhando os filhos
Com os olhos na estrada
E no mistério solitário da penugem
Vê-se a vida correndo, parada
Como se não existisse chegada
na tarde distante, ferrugem ou nada.

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