quinta-feira, 24 de março de 2011

provavelmente vocÊ

provavelmente
que nasceu de pernas bambas
e não atinava em nada que cheirasse a dor
experimentou os inéditos óxidos ambientes

provavelmente
nas dobras de tuas sandálias
a malícia que a cor nunca denunciará
porque cor não pega nem solta

provavelmente
os soluços pronunciados na cama fria
pontuais como os desejos verossímeis
e ninguém soube de uma só lágrima

provavelmente
nem tampouco o maniqueísmo dos inocentes
pra aliviar o meu segredo umbilista
e pobre de mim que só sei de mim

provavelmente
amanhã que é dia de feira
e não se pode perder um só suspiro teu
sob pena de ganharmos um vírus letal

provavelmente
pela calçada amarelada de preguiça
esperando uma música da Gal
nunca se sabe quanto tempo leva

provavelmente
com quem uma vez mais falarei
de quem uma vez mais lembrarei
por quem uma vez mais viverei

provavelmente
ainda pior do que um esquecimento
a ferida miasmática da aporia
e quem saberá do meu papel?

provalvemente
escrevo pedindo perdão ao retrato
pelo dito, pelo não e pelo talvez
se não sei de onde vem a raiva

provavelmente
tudo me cheira a loucura
até tu, caminho bom de se deitar!
que me trouxe pêlos melaninosos

provavelmente
não sobrará muito de mim
e nós brincando de não ser nada
- me leva pra passear no teatro!

provavelmente
seja o começo do fim da fruição
e agora me penduro no invisível
flamulando nalgum frande

provavelmentevocê.










{ dedidado ao menino Quixote (que me partiu em três) }