quinta-feira, 14 de novembro de 2013
em tempestivO
peço, mamãe, que retome o fio da novidade
e redesenhe a figura do menino que nasceu pálido e sem exatidão
devolva as panelas aos armários e dispense os convidados
desminta o festival anunciado em dias de sábado por ocasião do natalício
arranque os cabelos brancos que você mesma me cedeu via sangue
e costure uma rede fresca e espalmada em que possa planejar invernos amenos
difame todas as companhias dele, sejam homens ou mulheres
canalhas ou putas
condes ou mademoiselles
para que nada nele seja perverso ou doirado demais
não demore em providenciar outro pai
que a história tem dado provas de que a tríade
o quarteto e outros múltiplos
vão bem combinados quando mais inclusivos que exclusivos
e este novo menino, mamãe, não ficaria nem camponês
nem cosmólatra demais
por favor, se lembre de dar novo colégio a este reprojeto
queime seus livros de poesia modernista
adote por conta própria abecedários com pinturas pontilhistas
que é pr'este neófito se divertir bem muito
cansar do furdunço e sonecar
e que se refaça em bom contador de sinceridades cheirosinhas
tenha ainda a bondade de fazer esta criatura acreditar ao menos no sideral
ensinando a desconfiar dos cantores mentirosos de não ligar pra amantes
evite chorar durante todo este processo
afim de que ele não reflita novamente sua doída propensão ao bem comum
à simpatia e ao amor aos homens de brilho formidável
por fim, mamãe, peço que solte a mão deste menino
que ele quer se dependurar no fio da poesia
e não ser mais ninguém
e não ser mais nada
além duma página em branco.
[o sabiá assobiou sabino!]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário