quinta-feira, 1 de março de 2012

tudo vem do vento vem tudO














meu último suspiro explodiu na tua nuca, e não houve porta corta-fogo que isolasse os lampejos daquela transição. foi você que soltou da minha mão, soltou sim, que senti grosso vento gélido lambendo os meus pés, abrindo os meus tímpanos, encrespando as minhas sobrancelhas. ouvi do terreno barulhos mecânicos irritadores da celeuma semanal, dancei tangos militares, levei empurrões, arrancaram-me a banda. e aquilo tudo deslizava para um não-sei-quê curioso, em que atuavam a minha saudade e a minha angústia, donde vinha poeira besta, para dissimular o acende e apaga dos dias e das noites. nisso se passou para lá de uma centena de semanas, às vezes desenterravam-se décadas, estas vinham cheirosas a vontades de infância, dissolviam os meus dedos, de modo que tudo ou era o pincel ou era a pintura. nem saudade da Aurora nem de Pasárgada, estanquei lágrimas de Portugal, destratei anjos tortos até me endireitar.

[dedicado ao déjàvu do rompimento]

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