quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ciceramente



não vejo por que eu não possa brincar agora com a imagem do outono que se pôs em mim, quando foi preciso reconfigurar o que se ousa chamar de amor. o amor esteve cansado das bocas que nada sabem do fraterno. gritam, gritam, gritam e não sabem cantar. eu vi cantar. eu intumesci. eu vi brilhar o verde que enchia de frescor o tecido dos meus pés impávidos do terreno úmido, de pedras impassíveis. eu vi chover e pensei nos pássaros que se sacodem na copa de árvores farfalhantes. pensei nos seus dedos que explicavam a metafísica da nota sonora-surda. inventei-me visitante dos teus braços caudalosos, que me expulsavam de mim e me faziam pertencente a um coro trágico-grego, esquecido de si, pluralizado nos insetos hidrófilos. era a vida de tudo enquanto, era a vida de teus amigos, de teus discípulos, era a minha vida brigando pra ser um pedaço da tua, era uma pausa no final da linha do riso, buscando o fim do alumbramento, e não se acabava, e não se cansava de ser o enleio dos meus dias fatigados. o amor não é nada daquilo que dizem e desdizem, é aquilo enterrado no teu peito inflado de tanta arte, nos teus olhos translúcidos da mais sincera vontade de que o rio do meu pensamento venha lamber os teus ouvidos saudosos da palavra suave. os segredos por ti encerrados em meus tímpanos virginais só os fazem mais virginais ainda, e dispostos de um lustre capaz de cegar o mais fiel dos amantes. é teu meu espírito indignado com o desencontro natural das mentes ansiosas. são tuas minha simplicidade e minha simples idade. disponha o pouco que sou na dízima periódica dos teus futuros anos, e não terei nunca benefício mais bem concedido e impagável. se tu soubesses o festival que me foi proposto com tua chegada, ciceramente, seria preciso renomear todas as coisas e criaturas dispostas no manto da terra, para depois dizer que o amor foi coisa que tu inventaste como pretexto para fazer escorrer as mais perfumadas singularidades de ti. tenho dito, creio na tua altivez com cada pêlo do meu corpo, em cada curva intravenosa, com todo o meu recôndito, em todas as minhas células...
[assim sendo, peço que fique e reinstaure o amor]

Um comentário:

Anônimo disse...

E na teia dos galhos dessa frondosa árvore que você tão emocionalmente brinda com texto assaz sibilante, há também o tronco poderoso e abaixo deles, as raizes poderosas que sustentam tão fantástico ser...Ciceramente, quem estava ao teu lado no momento dessa foto merecia essa sombra! Os outros são a dúvida, mas o futuro tão nada mais é que uma doce e singela saudade que ainda não se viveu, por que saudade, só de quem já ficou...