quinta-feira, 9 de julho de 2009

tempo e espaço





Há quem atribua ao acaso os acontecimentos diários que nos empurram para a dúvida, a dúvida sobre se o sucesso tocar-nos-á o ombro com um tapinha, querendo dizer "há quanto tempo, hein!". Destino. Há quem dê autoria e autoridade a um(s) deus(es) a certa projeção/progressão de tempo e espaço. Religião. Há ainda quem acredite que o acende e apaga do Sol seja uma obra viva/móvel de uma sequência de eventos que não determinam agentes, mas que concorrem para pontos em comum e subseqüentes. Profecia. Há um outro bocado que se intumesce de poder agendar cada ocasião do toque do calcanhar no chão e cuidar para que, no caso de um passo em falso, um plano B seja logo posto em suplência, quando pouco, um plano C. Método. Há ainda uns outros tantos que tomam isso tudo supracitado como um mero placebo para os mistérios da arte de viver. Permissão. E então se segue uma boa quantidade de outras tantas categorias de viventes, que minhas imaginação e memória não abarcam.
Viver exige tempo e espaço especiais e adequados. Sem uma idéia demarcada de tempo, sou incapaz de decidir se devo ir por este ou por aquele meio, se devo dizer adeus ou até logo, se posso forçar o minuto bônus ou deixar pra amanhã à tardinha ou nunca mais. Sem uma idéia demarcada de espaço, foge do meu poder decidir se devo ou não explorar meu potencial de guerrilha, se uso este ou aquele palavrão, se faço muitos ou nenhum amigo, se viajo pra esta ou aquela cidadezinha. Talvez o que determine a disponibilidade dessas duas variáveis seja a vontade que tenho de alcançá-las e os meios que eu utilizo para.
Concomitantemente ao que penso em como ganhar mais tempo, perco-o. Ao procurar para onde expandir minhas fronteiras, se desfazem outras tantas logo atrás de mim. Então, tenho de me conformar que sou um ser limitado. Não pelo espaço, nem pelo tempo, mas pelo uso que faço dos dois. Fazer a este ou àquele tempo, neste ou naquele espaço, implica um abandono provisório do que já passei e de onde já estive. Provisório porque já senti e ainda hei de sentir muitas saudades de tudo, e esse banzo seria o percurso inverso à descoberta do novo. Descobrir é acenar ao que foi e dar boas vindas ao inédito. A menos que seja possível dizer tchau e como vai? a um só tempo. Mas, veja, que incoerência!
Que me perdoe o passado as gentilezas para com o presente, que me perdoe o detrás devido ao diante. E vice-versa, quando for o caso. Quero tudo que caiba no meu espaço e no meu tempo, e que eu não abuse da paciência desses dois, sendo eles tão importantes quanto minha fome de consumí-los.
Parafraseando Pompeu e, por extensão, Fernando Pessoa, Viver não é preciso. É preciso mesmo ter espaço onde, e tempo para deixar vazar todas essas idéias.

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