quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

lusco-fuscO

Fez-se dia à meia-noite, e o bicho que me consumia as víceras foi ladrar em outras selvas, ambientes de cactos, vidas severas, céu de azul estalando. Nem despediu-se, tendo o vento sido arrasador, de animar janelas, de anunciar tempestades.

- Pra quê? Pra que, Tufão, surpreender minhas vestes bem engomadas, de cores rupestres e embotadas de ânsia?

- Pra que, se o bicho nem era desta natureza e sim prole de amores interrompidos e áridos?

- Pra que, se o oceano de folhas secas e seixos soçobravam em ondas regulares, nanometricamente senoidais, encharcado de mal-me-queres?

Foi engano teu, Açoite, imaginar que me faria vacilante, que me forjaria em cal tenaz e involutiva, minando assim o meu caráter de encadeamento com outras criaturas. Já tu me sopravas cascalhos moídos em meus olhos lacrimosos; e era tudo turvo, em tudo uma carga de sombra, nada reluzia, pronto a me esculpir artificialmente inóspito e infértil. Inda mais surpreendente foi a anunciação de uma Figura, cuja silhueta se confundia com a de um portal entre o alumbramento e a indecisão. Não era um heroi, nem criatura fantástica, ou ainda espectro luminoso. Era físico, natural, orgânico; era humano. Em nada denunciava cultivar em si um bicho faminto similar ao meu. Mais parecia solver todo tipo de cólera bestial; por certo, aniquilou o Egoísmo gatuno em sua fuga...

3 comentários:

Sir Gil disse...

Vixi...Coitado do "perebento"... Com uma patada palavrial dessas e zonzo da vida, com certeza foi ladrilhar em outra freguesia...

Bravo disse...

Foi sim, mas ladrar faz eco; no entanto, por ora, só ouço som de passarinhos. E o que é do home o bicho não come!

Sir Gil disse...

Se era para comer, ja comeu...Ou teria comido... IN MEMORIUM... (risos)