quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

meandro

Era tudo um descolorido angustiado, quando as sobras das tardes carcomidas ainda cintilavam como um engodo aos pés sedentos de passagens avulsas e desconexas.
Ele se dependurou em um arranjo de tormento, ventilando como um bicho ciente das pernas curtas e da boca imensa, um monumento ao desagrado dos envolvidos e interessados na dança encantada dos dias de azul
desbotado e encardido. Sofria de profunda paixão pelos livros que continham juramentos de um enrosco vacilante, ora suspenso ora entregue aos trabalhos de apanhar a última gota de pressa, deixando-se alimentar pelas calçadas desenhadas por artistas cegos, que evitavam degraus, medrosos de arruinar qualquer possibilidade de hesitação.























Cantarolando despedidas ascéticas, chorou de tanto envergar a alma num apelo ao desvio de destino, conforme fosse a fenda bem feita no limiar do pó do enfado, refratando uma dor que não cabe nos braços, sibilante reza de um corpo ereto, dançante, errante, infante, num instante constante.
Desventurosamente, escorregou o cristalino por entre as vezes em que arranhou a volúpia da conversa de métrica moderna; vomitou, evitou, destoou, alçou vou, imperou e triunfou.
É inválida a tentativa de envernizar o pulso, suspiros disentéricos perduram.


[dedicado ao amigo-secreto Leandro]

3 comentários:

Sir Gil disse...

E quem seria ele? Um ectoplasma, um sobrevivente, um filhote de ET largado aqui por descuido? Quem é esse um que sofre de perenes arrobos desintéricos e mesmo assim jamais esquece que o dia de amanhã poderá vir formoso, como uma brisa fresca de outono a lavar-lhe as faces cansadas e dando conforto à alma?

Anônimo disse...

Clamo ao mundo a busca da percepção do avesso. Permita-me o anonimato, o arrebatamento e o agradecimento.

Bravo disse...

Ora, ora, você tomou muito pelo sério o composto "amigo-secreto"... hahahaha
Mas vamos marcar sim o abraço anunciado. Espere só mais alguns dias.
Cheiro!