Ontem mesmo, sentado num canto da cama, mirando uma tv que não conseguia me dizer uma só palavra de recarga, notei que meu pensamento flutua várias vezes entre uma idéia e outra quando isso é tudo que ele tem de mais importante para fazer. Lembrei dos índios, que recebiam fascinados a presença dissimulada do invasor branco, como se este fosse fruto cuja árvore a natureza esqueceu de revelar. A única informação que aqueles anfitriões poderiam elaborar a respeito dos seus penetras era que não eram gente de estilo simples, carecia ainda que estes últimos mostrassem que meia dúzia de naus encerradas de madeira pau-brasil não esgotavam sua cobiça para que se formasse um paradeiro mais ou menos determinante do perfil da raça de além-mar. Tendo em vista o exposto, retomando minha fala inicial, digo que a memória desse ocorrido não me é aleatória; que terão os selvagens achado daquela visão? Maravilhado-se com a descoberta de uma espécie, até então, mais rara que certas aves que só os visitavam em temporadas; ou assombrado-se com a possibilidade de aquilo tudo ser não mais que um distúrbio natural (gente descolorida em terras de sol potente), sinal dos deuses, sinal dos tempos? E daí por diante seguem outras dúvidas, visto que os nativos ainda ouviram muito falar de pau-brasil, cana-de-açúcar, missões, preciosas, extermínio, etc. Tocando novamente a idéia primeira, constato que o fruto da novidade não se processa em mim principalmente pela simples apresentação de um novo sujeito ou objeto, mas sim pelo conjunto de confrontos que apresento a esse inédito. É como se o novo falasse outra língua e eu estivesse buscando os cognatos. Alguns desses cognatos são falsos, mas eu sempre insisto em pensar que cair no erro de usá-los é o preço que se paga por ter de falar todas essas línguas e não falar nenhuma delas. Quantos falsos cognatos aqueles primevos genuínos americanos terão presenciado em lugar da verdadeira intenção? Quantas vezes tive eu de flexionar meu verbo mais à pronúncia do estrangeiro (novo)? E para que? Para saber com qual língua é mais fácil de agarrar o mundo. Assim, considero novidades palavras que inicialmente não compõem meu vocabulário, e que tenho de decidir se pertencem a esta ou aquela língua, porque desse bom entendimento surgirá meu bom equilíbrio no viver. Talvez por isso eu pense demais recluso a um canto da cama, vou selecionando as novidades, pondo aqui e ali, se a este ou àquele idioma pertencerem. Ainda é possível duvidar que existe uma língua universal? Eu acho que sim. Eu ainda duvido, duvido muito.
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