quinta-feira, 13 de agosto de 2009

idioma


Ontem mesmo, sentado num canto da cama, mirando uma tv que não conseguia me dizer uma só palavra de recarga, notei que meu pensamento flutua várias vezes entre uma idéia e outra quando isso é tudo que ele tem de mais importante para fazer. Lembrei dos índios, que recebiam fascinados a presença dissimulada do invasor branco, como se este fosse fruto cuja árvore a natureza esqueceu de revelar. A única informação que aqueles anfitriões poderiam elaborar a respeito dos seus penetras era que não eram gente de estilo simples, carecia ainda que estes últimos mostrassem que meia dúzia de naus encerradas de madeira pau-brasil não esgotavam sua cobiça para que se formasse um paradeiro mais ou menos determinante do perfil da raça de além-mar. Tendo em vista o exposto, retomando minha fala inicial, digo que a memória desse ocorrido não me é aleatória; que terão os selvagens achado daquela visão? Maravilhado-se com a descoberta de uma espécie, até então, mais rara que certas aves que só os visitavam em temporadas; ou assombrado-se com a possibilidade de aquilo tudo ser não mais que um distúrbio natural (gente descolorida em terras de sol potente), sinal dos deuses, sinal dos tempos? E daí por diante seguem outras dúvidas, visto que os nativos ainda ouviram muito falar de pau-brasil, cana-de-açúcar, missões, preciosas, extermínio, etc. Tocando novamente a idéia primeira, constato que o fruto da novidade não se processa em mim principalmente pela simples apresentação de um novo sujeito ou objeto, mas sim pelo conjunto de confrontos que apresento a esse inédito. É como se o novo falasse outra língua e eu estivesse buscando os cognatos. Alguns desses cognatos são falsos, mas eu sempre insisto em pensar que cair no erro de usá-los é o preço que se paga por ter de falar todas essas línguas e não falar nenhuma delas. Quantos falsos cognatos aqueles primevos genuínos americanos terão presenciado em lugar da verdadeira intenção? Quantas vezes tive eu de flexionar meu verbo mais à pronúncia do estrangeiro (novo)? E para que? Para saber com qual língua é mais fácil de agarrar o mundo. Assim, considero novidades palavras que inicialmente não compõem meu vocabulário, e que tenho de decidir se pertencem a esta ou aquela língua, porque desse bom entendimento surgirá meu bom equilíbrio no viver. Talvez por isso eu pense demais recluso a um canto da cama, vou selecionando as novidades, pondo aqui e ali, se a este ou àquele idioma pertencerem. Ainda é possível duvidar que existe uma língua universal? Eu acho que sim. Eu ainda duvido, duvido muito.

Nenhum comentário: