segunda-feira, 4 de julho de 2016

piada velha

Considero quase sempre misteriosas as gargalhadas de uma pessoa, independente de sua excentricidade. Há no riso um trabalho árduo de significação, entretanto é ainda mais rápido rir do que pensar (os espontâneos que nos contem as armadilhas do escárnio). Não me orgulho de ter dois risos: um íntimo e um social; mas me admiro de eles não me traírem com tanta constância. Social é aquilo que a gente dispensa aos colegas, como se dá um "bom dia", não é bom errar o horário nem o tom nem a frequência; fica manjado, marcado, maçante, nada elegante; íntimo é aquilo que vem dos desejos mais egocêntricos, é a vontade incontrolável de saciar a vontade, é o contramaré, é o perder as pernas, é o errar na mão, é irremediável, é o impagável, é o quase perder os amigos não fosse os amigos saberem que aquilo é raridade! Escárnio. Foi citado, mas fica aqui sendo o primo sem limites, aquele em quem pôr a culpa por toda a desgraça alheia. É intuitivo saber que escárnio tem a ver com ferida, mas o que seria das confissões (e portanto das sinceridades) não fossem as feridas expostas? Somos iguaizinhos no rir, só tem gente que é mais felicidade que riso em si. Rir menor quem ri por fútil.
 

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